Quando li O próximo vento nos levará para casa, me senti sendo levada por belos percursos de maré e correnteza. Corri às prateleiras da minha estante em busca do Poço do fim do mundo, o primeiro livro do Rafael de Abreu, pois tive a sensação a qual confirmei em seguida de que havia um caminho não tão óbvio a me levar de um a outro livro. Identifiquei lá no Poço as primeiras raízes desta nova obra, numa espécie de solo liquefeito: era uma rota de fuga desesperadamente almejada. Um poema da Alejandra Pizarnik veio a mim também rolando nesta mesma onda, e vi em suas palavras um certo tipo de chão (ou ao menos um porto-seguro) no qual se pisa quando adentramos no novo livro do Rafael, que, a propósito, mostra uma poesia cada vez mais madura, guiada pelos mistérios do que vai e do que fica. O próximo vento nos levará para casa busca, nos versos emprestados de Pizarnik, explicar com palavras deste mundo/que partiu de mim um barco levando-me. Em pilares maleáveis, Rafael estrutura (...)