A despeito de sua subsistência ou preexistência como laços de filiação e aliança, o parentesco somente se realiza em composição: com gestos e encontros repetitivos e fugazes, cotidianos ou excepcionais; com relações que o excedem e antecipam, com conhecidos e estrangeiros, com entes e objetos mundanos e sobrenaturais, domésticos, vicinais ou distantes; com territórios existenciais, comunitários, espaço-temporais; com a casa e com o mundo; com ciência e tecnologia, cuidado e comida, ajuda e trabalho; com visitas, viagens, festas, despedidas, brigas e reconciliações; com substâncias, corpos, signos, afetos e artefatos que se moldam e o moldam a um só tempo, ao longo do tempo. Vislumbrada desde uma perspectiva alquímica de elementos heteróclitos combinados, essa composição do parentesco se anuncia para nós como uma ideia potente e renovadora, capaz de contornar, se não ultrapassar, os dilemas clássicos de uma subdisciplina, assim como suas fronteiras.