A partir de Freud, Said discute a construção da identidade judaica, suas relações com a concepção de que grupos são ou não são "europeus", e a dinâmica da identidade étnica e religiosa em momentos diferentes da história. Na Viena onde viveu Freud, de forte sentimento anti-semita, durante a Segunda Guerra Mundial, particularmente no Holocausto e atualmente, dentro do conflito palestino-israelense. Utilizando uma impressionante gama de materiais da literatura, da arqueologia e da teoria social, o ensaio de Said, constitui uma exploração das implicações desta obra de Freud para a política do Oriente Médio de hoje Said analisa temas como o uso da arqueologia para validar a ocupação da terra e os direitos nacionais dos dois lados do conflito, e a adoção de Israel como um estado ocidental após 1948, naquilo que segundo Said mais pareceu uma paródia das divisões (raciais) tão assassinas de antes, em oposição e em um papel de controle perante os estados e povos não-europeus, árabes, da região. A esta visão, que coloca os dois povos como se fossem destinados ao conflito eterno entre si, Said expõem as idéias de Freud sobre uma identidade judaica mais aberta, menos absoluta, que seria negada pela política oficial do estado israelense. Desta nova origem levantada por Freud, pergunta-se o autor, pode algum dia se tornar a fundação não-tão-precária, na terra de judeus e palestinos, de um Estado bi-nacional no qual Israel e Palestina sejam partes e não antagonistas da história e da realidade subjacente um do outro? Nascido de uma conferência proferida por Said no Museu Freud, em Londres, em dezembro de 2001, Freud e os não-europeus traz ainda uma resposta a Said da professora inglesa Jacqueline Rose, da Universidade de Londres, e uma introdução escrita pelo psicanalista Joel Birman, professor do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Um livro polêmico, que com grande humanismo e erudição questiona as versões e ficções que estão nas raízes dos fundamentalismos.