Fui transformado quatro vezes em minha vida. É um sentimento distinto. Inconfundível. A sensação marcante de se desfazer e se refazer, tornando-se algo novo, uma pessoa nova. Pode ser boa ou ruim, proveitosa ou prejudicial, mas, acima de tudo, é irrefreável. Fui transformado quando meus pais morreram. Saí de uma infância feliz e entrei em um mundo muito sombrio, com infinitas responsabilidades, rodeado por inimigos e desesperadamente solitário. Isso aconteceu de novo nas mãos de um predador covarde. Dessa vez, tornei-me mais furioso, mais cético, e foi isso que, sem dúvidas, me transformou no pervertido que eu era. A terceira vez aconteceu de forma rápida. Um dia, deparei-me com um par de olhos azul-claros e vi a outra metade da minha alma. Xeque-mate. Saí de uma existência completamente controlada, uma vida na qual eu calculava friamente cada decisão que tomava, para um homem tomado por sentimentos e emoções que eram estranhos, mas, de alguma forma, maravilhosos.