Nos contos reunidos nesta obra, a autora detém seu olhar sobre o avesso da vida, aquele lado camumbembe que se quer esconder e dissimular, que não é o melhor nem o mais atraente, que põe a nu suas emendas e cerzidos, seus arremates e nós. Nesse avesso torpe e sofrido, encontramos neuróticos de várias estirpes e idades, meninas e mulheres degradadas e prostituídas, suicidas e assassinos, devassos de toda espécie, doentes do corpo e da alma. Vazios e perdas também comparecem, incluindo-se a questão do vácuo criativo, que estanca o trabalho do escritor - viés trabalhado em dois contos, que fazem fronteira com a literatura fantástica. Como outros contistas contemporâneos, a autora trabalha o lado escuro da sociedade, feito de mesquinharia, opressão, aviltamento e violência. Aliás, essa face negra presente todos os dias nas manchetes dos jornais, nos noticiários da televisão. Movendo-se entre esses temas, a autora alcança um resultado em que a diversidade de personagens, cenários, tempos e vozes narrativas compõem um todo equilibrado, capaz de agradar ao leitor mais exigente.