No ensaio que o leitor tem em mãos, o historiador Eduardo Borges discute como o golpe de Estado assumiu o caráter de método das elites nacionais, na perspectiva da construção de uma democracia restrita e limitadora da cidadania. Assim, devido à natureza da obra, à amplitude e à extensão temática, o autor assumiu riscos, que instigarão questionamentos dos seus leitores. A noção de golpe seria aplicável a todos os processos analisados? Elencar como golpes os impedimentos do Presidente Collor e da Presidenta Dilma não dificultaria a percepção das singularidades dos processos analisados? A meu ver, o grande mérito da obra é contribuir para o esforço de compreensão da história imediata do Brasil, marcada pela pandemia de COVID-19, pelo retorno da fome e da miséria ao cotidiano de milhões e por uma crise política que invoca os fantasmas da última ditadura. Ademais, o ensaio também sugere que não basta constatar que o Estado Democrático de Direito pode ser golpeado.