João da Gama Filgueras Lima, o "Lelé", como é conhecido, além do grande arquiteto que é, circulando como poucos entre a arte e a técnica, é uma admirável figura humana. Publicar um livro sobre sua obra é um antigo desejo nosso, pela vontade de oferecer ao público um conhecimento mais aprofundado sobre seu trabalho.Apresentamos aqui os trabalhos em sequência cronológica e panorâmica em relação à carreira do arquiteto. Nele, podemos acompanhar os quarenta anos de profissão exercida com extrema coerência, objetividade, apuro técnico e artístico. O contato com o trabalho de Lelé instiga todo arquiteto a sonhar, criar e realizar algo útil para a sociedade. Em um país com as dimensões e as carências do Brasil, Lelé nos apresenta as soluções da construção pré-fabricada, seriada, patamar superior em termos de qualidade e conforto na vida de nossas cidades. Talvez seja, na atualidade, o arquiteto que mais longe levou as propostas do Movimento Moderno de fazer uma arquitetura que possa mudar o mundo para melhor. Com a disciplina do músico que também é, e o seu estilo franciscano, Lelé fez e continua fazendo sua arquitetura com liberdade e responsabilidade, poesia e crença no ser humano.Na primeira parte do livro apresentamos uma entrevista que mostra um pouco do homem que está por trás dessa formidável arquitetura. É uma abordagem, um momento, uma entrevista... um João.Num longo depoimento, ao falar de sua carreira, Lelé oscila entre os feitos do destino - as "coincidências" e os "acasos" - e a força da determinação e da vontade. Entre os "acasos e coincidências" podemos citar a ida do jovem músico para a escola de arquitetura; o encontro com Oscar Niemeyer; a ida para Brasília; o envolvimento com a técnica e o canteiro de obras; os encontros com Darcy Ribeiro; a ida para a Bahia e tantos outros acontecimentos "fortuitos". A determinação esteve sempre presente na capacidade de realização do estudante, do músico, do arquiteto criador de escolas, hospitais e cidades.É a velha história do barco que anda livre, ao sabor dos ventos, mas que, vez por outra, precisa receber o toque do timoneiro no leme, para a correção da rota. Lelé afirma que andou de fracasso em fracasso, entre inúmeros golpes e interrupções em seu trabalho. Mas são golpes inevitáveis para um profissional que opta por trabalhar com o poder público neste país. O que vemos nas centenas de páginas deste livro, porém, é uma luminosa arquitetura. Com o leitor, a palavra.