Como retratar um mundo cuja existência é marcada pela falta de sentido, como se estivéssemos largados à própria sorte, sem uma Pasárgada na qual pudéssemos nos abrigar? Em Ainda que tarde, Vera Maia se propõe a este desafio enquanto leva o leitor a experienciar tal sensação de dissonância com o mundo ao redor. A percepção de que paulatinamente as rasteiras do destino vão subtraindo a lógica do mundo irrompe com força em seus contos e poemas, sustentados pela potência de uma escrita madura, bem estruturada, direcionada a revelar personagens que se deparam com abandono, derrota, delírio e dor. Mas não esperem melodrama! O olhar oblíquo com que Vera Maia estrutura esse universo é permeado de humor ácido, impiedoso. Nas situações em que prevalecem regras de moralidade, preconceitos e convenções vazias, a autora interfere de modo hábil, construindo uma espécie de ópera-bufa, denunciando as farsas ou, por vezes, [...]