Por ser justamente a redação de um grupo coeso de aulas, o livro de Forster terminou assumindo o aspecto de manual e, desde a sua primeira publicação, interessou tanto a estudantes de ciências humanas em geral quanto ao público curioso em compreender com mais profundidade algumas das questões que envolvem o romance, uma das formas literárias mais populares. Forster dividiu suas aulas que aqui se tornam capítulos em uma série de tópicos, cada um preocupado em discutir um possível elemento que pode ser encontrado na espinha dorsal de qualquer romance. A primeira parte, após uma breve e esclarecedora introdução, cuida do que o autor chamou de estória, aliás, termo que seria comum a qualquer romance. Forster lembra que toda estória, mesmo que exista apenas sob a forma de recortes ou fragmentos, está subordinada à existência de um relógio. A análise, então, entra no espinhoso problema do tempo. Segundo o autor, mesmo que for para negá-lo, subvertê-lo ou torná-lo confuso, o romance não pode deixar o tempo de lado. O segundo e o terceiro capítulo tratam das pessoas do romance. Habilmente, e antecipando uma das principais discussões do século XX, Forster diferencia ficção de história e situa as particularidades da narrativa literária. O leitor, nesse ponto, já estará acostumado à tendência do autor à análise de grandes obras. No caso, Forster lança mão de Daniel Defoe. Uma de suas conclusões é surpreendente e merece nota: a boa ficção, por exigir alguma coerência, oferece evidências e traços de esperança para a realidade, já que acaba refinando as personagens e criando pessoas mais completas que a nossa percepção pode notar no dia-a-dia.