Em países periféricos como o Brasil, a abolição da tortura valeu apenas para os bem situados socialmente. Em nosso país, além da dicotomia dominante e dominada, presente em todos os países capitalista, vigora outra ainda mais dura, aquela que, segundo um personagem do romancista Graham Greene, divide os homens em "torturáveis" e "não torturáveis". Dessa forma, o grande choque causado pelo regime militar não foi a instituição da tortura, mas o fato de que, sob o reino tenebroso dos DOI-CODI, as classes médias brasileiras, antes protegidas por imunidades sociais, caíram momentaneamente na categoria das "torturáveis".