A existência de travestis na nossa sociedade ainda é vista de forma bastante estereotipada, há sempre apontamentos e direcionamentos sobre o que se acha que deveria ser ou como deveriam viver. Pesquisar essa população também é algo bem específico, pois em alguns casos caracterizam essas pessoas de forma muito caricatural. A tese de Adriana Sales, resultante neste livro, traz um diferencial, pois, pela primeira vez uma Travesti oriunda do movimento organizado se desafia a pesquisar esse mundo e o faz de uma forma bem crítica e se deslocando do papel de participante para o de pesquisadora. Esse deslocamento não é fácil posto que a sua atuação interna pudesse afetar a pesquisa, no entanto, ela opta por conversar com as próprias protagonistas que iniciaram esse movimento. O livro é riquíssimo e traz um olhar crítico sobre as vidas das pessoas que construíram o movimento organizado e faz um entrelaçamento com as vidas de hoje dessas pessoas. É uma obra que servirá para outros estudos e pesquisas dessa natureza e algo inédito, até então, feita de Travesti para Travestis. Obviamente que é um trabalho acadêmico, mas servirá para que qualquer pessoa ou instituição possa ter em mãos e promover mudanças visando um futuro melhor.