É notória a importância da construção de um novo conhecimento relativo à animalidade, esse paradoxal conceito que assusta, arrepia, permeia e atravessa nossa tão valorizada. Desde o direito, especificamente, necessário discutir o estatuto jurídico adequado à essa nova condição animal, que começa a estremecer o modelo especista vigente. A literatura servirá, então, como aresta para a discussão jurídica, ao permitir um diálogo mais rico e criativo dentro do direito, inserindo elementos estéticos nas compreensões que costumam ser prioritariamente técnicas e voltadas à aplicação de normas pré-existentes. Afinal, se é possível conceber a existência e a consagração (hipotética) de direitos para o psiquiatra Simão Bacamarte ou para o finado Brás Cubas, por que não se pode fazer o mesmo em relação ao fiel canino Quincas Borba? E, em um segundo momento, no que se refere ao convívio social, por que não fazê-lo em favor de um cachorro abandonado que precisa de cuidados ou de uma vaca confinada em uma indústria leiteira? As contribuições literárias estão no mundo das ideias tanto quanto a filosofia ou o direito estão, o que torna aquelas tão passíveis de incorporação na investigação científica quanto estas; e mais, com a vantagem de terem sido desenvolvidas a partir de um senso ou prisma estético, o que possibilita uma interpretação mais rica das ciências humanas e sociais. Assim, objetiva-se, com esta obra que aqui se apresente, contribuir com provocações aptas a possibilitar a insurgência do animal para uma condição que nunca podia ter-lhe sido negada.