Nesta obra, o autor traça um panorama da maneira como foi avaliado o tempo através das épocas, desde a Antiguidade até aos dias de hoje. Os Gregos afirmavam que o mundo existia desde toda a eternidade, mas, segundo a tradição judaico-cristã, baseada nas narrativas da Bíblia, a Criação remontava apenas a alguns milénios. Esta concepção durou até ao Renascimento, apesar das "heresias" de Isaac de La Peyrère, Espinosa e Jean Astruc, entre outros, que puseram em causa a interpretação corrente dos textos bíblicos. Copérnico e a sua revolução heliocêntrica deram a primeira machadada na ciência medieval, que considerava a Terra como o centro do Universo. Mais tarde, na segunda metade do século xvII, chegava-se à conclusão de que o texto bíblico tinha também uma história e que a Terra tinha uma memória do seu passado, guardada em arquivos enterrados nas profundezas do subsolo. Esses arquivos eram os fósseis, restos petrificados de animais e plantas há muito tempo desaparecidos, e os estratos camadas de sedimentos que se tinham acumulado e sobreposto ao longo dos tempos. Foram estes arquivos que começaram a revelar a imensidão do tempo e a terrível brevidade da história da humanidade. O estudo desses arquivos constitui, portanto, a parte fundamental deste livro; mas esse estudo não teria sido possível sem o contributo dado por cientistas de áreas tão diferentes como a astronomia, a física e a química. A idade da Terra começou, portanto, a ser estudada a partir do tempo que se pensava que tinha durado essa solidificação e a partir dos estratos que formavam essa camada exterior. Vários cientistas e filósofos da natureza se distinguiram nesta busca, entre os quais Descartes, Leibniz, Newton, Fourier e Kelvin. Mas a solução para o problema do tempo não veio do infinitamente grande, mas sim do infinitamente pequeno, o átomo, como foi revelado pela radioactividade dos Curie ou de Rutherford. Através da medição extremamente exacta das metades de vida dos materiais radioactivos como o urânio ou o tório, da descoberta das transmutações radioactivas e dos isótopos dos elementos, foi possível estabelecer uma cronologia extremamente exacta para a idade da Terra. PASCAL RICHET é físico no Instituto de Física do Globo, de Paris.