Nesta obra são analisadas possíveis implicações éticas de algumas teorias cosmológicas enunciadas na segunda metade do séc. xx e que tentaram dar resposta a uma coincidência fundamental há pouco tempo descoberta - a coincidência entre o que as propriedades do Universo são e o que teriam de ser para que a vida inteligente pudesse ter emergido no processo evolutivo cósmico. Duas linhas de pensamento se apresentaram a reclamar este novo território: a linha antrópica, com as várias versões do seu famoso princípio antrópico cosmológico, e uma posterior linha anti-antrópica. Na primeira, a vida inteligente, de que a nossa espécie é particularmente representante, assume uma relevância especial no e para o Universo. Mas na segunda linha, a contrapor às quatro versões do princípio antrópico cosmológico aqui analisadas (versões fraca, forte, participativa e final), surge uma teoria que alarga a ideia de Gaia a todo o nosso Universo e relega a vida inteligente para um humilhante estatuto de subproduto evolutivo de um Universo indiferente. Como é que estas ideias, controversas e especulativas, geradoras de alguns entusiasmos mas alvo de arrasadoras críticas, de desprezo e mesmo desdém, podem influenciar as nossas concepções éticas, em particular de ética ambiental? Haverá, sequer, razões para dar crédito a tais teorias, enquanto fundamento de concepções éticas? Alguma destas teorias será merecedora de especial atenção num contexto ético? Se sim, qual? São estes, no fundo, os grandes desafios a que esta obra procura responder. A questão central é a do lugar do ser humano na natureza. Questão central e primeira porque, a partir daqui, toda a ética, em particular a ética ambiental, pode ter uma matriz de fundo. Mas a credibilidade de tal matriz, no contexto desta obra, depende da credibilidade científica das concepções cosmológicas analisadas e apenas a versão fraca do princípio antrópico cosmológico parece garantir um nível credível de cientificidade... Esta obra é um ensaio na mais primitiva acepção da palavra: é uma tentativa de rasgar novos caminhos, uma tentativa de construir pontes entre áreas que aparentemente nada têm que ver entre si e que na prática pouco ou nada contactam entre si, nomeadamente cosmologia e ética ambiental. Investe, pois, num esforço interdisciplinar, convocando para esta jovem e florescente área da ética um conjunto de temas e questões não habituais. Cosmologia e ambiente não são, afinal, tão distantes. A sua proximidade chega-nos pela mão da ética. JOÃO LOPES BARBOSA é licenciado na área de Física, mestre em Filosofia da Natureza e do Ambiente e doutorando em Filosofia (Ética Ambiental). Professor. Tem leccionado Ética Ambiental, Educação Ambiental, Ciências do Ambiente, Ética da Ciência e Epistemologia da Ciência em diversas instituições. Foi durante anos professor-colaborador do Museu de Ciência da Universidade de Lisboa. Foi fundador e é o actual vice-presidente da SEA - Sociedade de Ética Ambiental.