Lutas de classes na Alemanha é o nono volume da coleção Marx e Engels, na qual a Boitempo vem publicando a obra dos dois pensadores em traduções inéditas, feitas diretamente do alemão. Com prefácio de Michael Löwy e tradução de Nélio Schneider, esse livro reúne pela primeira vez alguns dos principais textos redigidos por Marx e Engels sobre as lutas de classes na Alemanha - textos que visavam não só interpretar a realidade social e política mas também transformá-la, para retomar a famosa Tese XI sobre Feuerbach. Os documentos incluídos nesse pequeno volume - "Glosas críticas ao artigo ‘O rei da Prússia e a reforma social. De um prussiano’"; "Reivindicações do Partido Comunista da Alemanha" e "Mensagem do Comitê Central à Liga [dos Comunistas]" - são bastante distintos, mas se caracterizam todos por uma formidável lucidez política. O fio condutor dos três é o mesmo: a luta de classes na Alemanha entre explorados e exploradores, oprimidos e opressores, a dialética entre revolução social e política. O livro é composto de textos raramente publicados, selecionados com o auxílio do filósofo Michael Löwy e nunca antes reunidos em uma mesma edição. A exemplo da obra Lutas de classes na França: 1848 a 1850, no qual Marx reuniu escritos sobre os combates franceses, esse volume contempla análises suas e de Engels acerca da experiência alemã. São textos produzidos no calor da hora, conclamando os leitores de então a participar ativamente das transformações sociais em curso, e foram escritos por Marx e Engels na juventude, quando ambos contavam com 25 a 30 e poucos anos. Como afirma na orelha Ivo Tonet, professor do departamento de Filosofia da Universidade Federal de Alagoas, "as ideias fundamentais expressas nesses textos - a centralidade do proletariado como sujeito ativo e fundamental da revolução, a necessidade da articulação das lutas democráticas com a perspectiva de uma revolução socialista, a diferença radical entre revolução com alma política e revolução com alma social, a natureza essencial do Estado como expressão e condição de reprodução da desigualdade social, a impotência do Estado face aos problemas sociais e, portanto, a limitação intrínseca das políticas públicas, a limitação essencial da cientificidade burguesa (o intelecto político) por causa de seu viés particular e a superioridade da perspectiva do proletariado (intelecto social) por causa de seu viés de totalidade - continuam de uma atualidade inquestionável até os dias de hoje". Para enriquecer esta edição, foi incluído o poema "Os tecelões da Silésia", escrito por Heinrich Heine em 1844 com base no levante ocorrido no mesmo ano, e que também inspirou Marx a publicar o primeiro dos artigos apresentados neste volume, como aponta Löwy em seu "Prefácio". Trecho "A existência do Estado e a existência da escravidão são inseparáveis. A fusão do Estado antigo com a escravidão antiga - antíteses clássicas declaradas - não era mais íntima do que a do Estado moderno com o moderno mundo da barganha - antíteses cristãs dissimuladas. Se quisesse eliminar a impotência de sua administração, o Estado moderno teria de eliminar a atual vida privada. Se ele quisesse eliminar a vida privada, teria de eliminar a si mesmo, porque ele existe tão-somente como antítese a ela. Porém, nenhum vivente julgará que as deficiências de sua existência estejam fundadas no princípio de sua vida, na essência de sua vida, mas sempre em circunstâncias exteriores à sua vida. O suicídio é antinatural. O Estado não pode, portanto, acreditar que a impotência seja inerente à sua administração, ou seja, a si mesmo. Ele pode tão-somente admitir deficiências formais e casuais na mesma e tentar corrigi-las. Se essas modificações não surtem efeito, a mazela social é uma imperfeição natural que independe do ser humano, uma lei divina, ou a vontade das pessoas particulares está corrompida demais para vir ao encontro dos bons propósitos da administração. E como são pervertidas essas pessoas particulares! Eles reclamam do governo toda vez que este limita sua liberdade, mas exigem do governo que este impeça as conseqüências necessárias dessa liberdade!"