A poesia que se escreveu entre nós durante a década de 1930 caracteriza-se, acima de tudo, por uma distensão da linguagem e do ritmo, o que pode ser entendido como uma inevitável consequência histórica e literária do ideário transgressor do movimento modernista de 1922. Os autores que nela estrearam, e figuram nesta antologia, buscam desde logo reformular os meios de comunicação poética e os materiais de composição, dando assim outro emprego aos recursos teóricos e retóricos do Modernismo, como os do poema-piada, da gíria, do uso poético dos lugares-comuns, das sabotagens gramaticais, do retorno caótico ao primitivo e ao elementar, das deformações sintático-vocabulares, do ritmo sincopado que se apoiava nas lancinantes partituras jazzísticas e dos cortes abruptos inspirados na técnica cinematográfica. Tais expedientes seriam agora preteridos às preocupações político-sociais, às indagações metafísicas religiosas, às reflexões filosóficas e à recuperação daquela vertente lírica que os modernistas tanto desdenharam em favor de uma estética da ruptura e da agressão às normas da língua culta e à linguagem discursiva. Assim, durante a década de 1930, os poetas realizam todo um imenso esforço para superar as fórmulas datadas do próprio movimento modernista, incorporando à sua arte o sentimento do tempo presente, suas inquietações e adversidades, e o verso, antes melódico, de ritmo cadenciado, dos simbolistas e dos parnasianos, é substituído pelo expediente da surpresa, da dissonância, do humor, da tragicidade da existência, do absurdo e das interferências suscitadas pelas alusões, as analogias e as associações de ideias.