A Gramática histórica que apresentamos completa um longo percurso, iniciado em 1998 com a publicação da Fonética espanhola para brasileiros. De lá para cá, perscrutamos as línguas portuguesa e espanhola do ponto de vista fonético, morfossintático, ortográfico, léxico e lógico em uma dezena de obras, sob uma perspectiva presente e atual (sincrônica). Mas o desafio da reflexão histórica (diacrônica) pairava no horizonte. Os estudos históricos no âmbito da linguagem experimentaram um grande crescimento ao longo do século dezenove. As origens dos diversos idiomas e suas raízes comuns foram esmiuçadas. A partir dessas pesquisas, foi possível formular, no início do século vinte, o estruturalismo lingüístico, uma abordagem sistemática da comunicação humana adotada com sucesso em outras áreas do conhecimento, como a antropologia, a sociologia e a psicologia. O objetivo do estudo que introduzimos é simples: apresentar as origens do português e do espanhol de modo didático e contrastivo. O conjunto dos traços coletados umas vezes semelhantes, outras contraditórios ajudar-nos-á a desvendar a herança lingüística que ambos os idiomas receberam. Mesmo reconhecendo as influências do grego, das variantes germânicas e do árabe, percebe-se claramente que o latim é o seu esteio. São inúmeras as semelhanças entre o português, o espanhol e o latim: fonemas próximos e acento de intensidade na penúltima sílaba, ortografia compatível, uma base léxica comum e morfemas afins. O ponto de maior distanciamento entre as três é de índole estrutural: o latim é uma língua sintética, integrada por uma constelação de casos que é preciso reunir indutivamente, a modo de pistas, indícios ou provas, até decodificar a mensagem mediante sínteses morfológicas. O português e o espanhol são línguas analíticas, resultado de funções unitárias, as quais, ao serem desmembradas dedutivamente, transmitem conteúdos cognitivos por meio de análises sintáticas. Há divergências superficiais: o latim possuía menos fonemas e algumas das nossas letras (v, j) só foram incorporadas muito tarde, sua duração e ritmo eram diferentes, especialmente na poesia, carecia de certos signos ortográficos e, até o século IV a.C., escrevia-se com maiúsculas, finalmente, a base léxica do latim era o grego. Esperamos que a obra contribua para a formação lingüística dos futuros professores brasileiros de língua portuguesa e espanhola. Sumário: Símbolos. Prólogo: José Antonio Pérez Gutiérrez. Introdução. Tópicos iniciais. Comunicação e linguagem. Som e expressão. Português e espanhol, duas línguas próximas. Os primórdios. As línguas da Península. Consolidação das nacionalidades. Introdução à fonética e ortografia latinas. Influência germânica sobre o latim. Alfabeto alemão. Influência árabe sobre o latim. Princípios básicos da lingüística histórica. Alfabetos semitico setentrional, aramaico e árabe. Origem das vogais portuguesas e espanholas. Vogais tônicas. Os ditongos e a sua realização em português e espanhol. Hiatos. Vogais átonas. Origem das consoantes portuguesas e espanholas. Consoantes iniciais simples. Grupos consonantais iniciais. Consonantes internas simples. Consoantes internas duplas. Consoantes internas agrupadas. Grupos de três consoantes. Grupos consonantais românicos. Consoantes finais simples. Sistematização das mudanças fonéticas. Permuta. Queda. Contração ou crase. Acréscimo. Transformação. Transposição. Considerações sobre yod e waw. As classes gramaticais. A cosmovisão aristotélica. A lógica aristotélica. O perfil lógico da linguagem. Substantivos. Primeira declinação. Segunda declinação. Terceira declinação. Quarta declinação. Quinta declinação. Derivação dos substantivos. Adjetivos. Adjetivos de primeira classe. Adjetivos de segunda classe. Grau de adjetivos. Derivação dos adjetivos. Pronomes. Origem do artigo. Pronomes pessoais. Pronomes demonstrativos. Pronomes relativos e interrogativos. Pronomes indefinidos. Numerais. Verbos e advérbios. Considerações gerais sobre os verbos latinos. Verbos latinos: a voz ativa. Verbos latinos: a voz passiva. Verbos latinos irregulares ou anômalos. Verbos latinos defectivos, impessoais, depoentes e semidepoentes, a conjugação perifrástica. Advérbios. Verbos regulares latinos conjugados. Verbos irregulares latinos conjugados. Preposições e conjunções. Preposições latinas, portuguesas e espanholas. Conjunções latinas, portuguesas e espanholas. Interjeições. A concordância. A concordância entre nomes. A oração: concordância entre nomes e verbos. A oração e o período. Apêndice. Origem dos signos ortográficos mais comuns. Conclusão. Índice remissivo. Bibliografia.