Mulheres fortes desnorteiam homens fracos e a opinião pública infantilizada. São, muitas vezes, reduzidas a símbolos de difusas liberdades e ousadias. Deste modo, mídia e senso comum encobrem sua condição de seres humanos excepcionais exatamente por serem iguais a todos e tão radicalmente fiéis a si mesmas. Assim são duas Amaral: Tarsila e Maria Adelaide. Ao fazer da Tarsila o eixo desta peça sobre quão brasileira é nossa modernidade, Maria Adelaide devolve-lhe a imensa estatura humana. Tarsila, por sua parte, expõe mais uma vez o projeto até aqui plenamente realizado de sua autora. Em romances, peças de teatro ou obras para televisão, Maria Adelaide Amaral trata História e humanidade como irmãs siamesas. Ela está sempre a nos mostrar como as pequenas histórias pessoais melodramáticas, rocambolescas ou triviais são os fios com que se tece a grande narrativa coletiva. A peça conta apenas uma versão possível de uma vida excepcional. A de uma grande artista que fazia revoluções na sua vida pessoal, com a mesma simplicidade e segurança com que as aceitava na sua vida pessoal, com a mesma simplicidade e segurança com que as aceitava em sua obra. Mas é também uma chave para entendermos o que foi o modernismo para aqueles burgueses que sofriam de uma angustia que ainda não podiam nomear. Ainda que tão bem a expressassem em prosa, verso e tela. Maria Adelaide Amaral mais uma vez mostra que perfeito domínio técnico e visão pessoal e profunda podem andar juntos. Sua obra já é imprescindível para todos que queiram entender a alma do brasileiro contemporâneo. Aimar Labaki