Há coisas que são inevitáveis, nos diz Mauro Santa Cecília neste novo livro. Ser poeta, por exemplo. Os poetas são aqueles que, como bem disse Chico Buarque, podem ver na escuridão e Mauro é desses. E, qual Orfeu, ele volta dos subterrâneos redivivo, com sua fala-faca afiada nas caldeiras de Hefesto. E, dionisíaco, revigora-se porque respira música acima de tudo. A partir disso, ele nos dá sua poesia, extraída dos escombros do que construiu, reerguendo os destroços do que implodiu e tudo isso a partir do (muito) que conseguiu ser. A arte espalma/ A chance de viver. E viver é um tapa na cara. É também reavivar quimeras e fertilizar silêncios. E o útero do poeta é, sim, potente. E vermelho de sons (a música aí de novo). E desta gestação ele dá à luz belezas piscando. Como disfarces da dor. E a dor do poeta não é vilipendiada, pelo contrário. E apesar das adversidades, ele escreve. E, com suas palavras, abre janelas. Para isso ele persevera e vive: para brindar-nos com (...)