O realismo sempre trouxe em si um antagonismo interno, uma espécie de unidade de atração e repulsa em relação a si mesmo e ao real que pretendia representar, pois, enquanto criticava a realidade de que surgiu, participava de sua construção. Sempre foi, de fato, uma unidade tensionada entre opostos, um atrito entre a realidade que pretendia ser e a realidade que de fato não era, expressando assim as próprias contradições da história e do tecido social, em cada momento. O que no fundo prevalece no realismo de hoje o que lhe dá forma e o constitui é, mais uma vez, um problema não resolvido de ressonâncias éticas e morais, que ultrapassa questões de construção textual e discussões a respeito da fidelidade ao real, que ocupou tanto a crítica do século XX. Talvez o realismo hoje tenha finalmente perdido uma parte de seu valor de conhecimento, aquele que, utopicamente, poderia levar a uma crítica negativa radical e necessária da sociedade contemporânea.