Jean Meslier (1664-1729), padre sem Deus, dedicou-se durante toda a vida a um ritual para ele desprovido de sentido: dirigir as suas orações a um céu vazio, pronunciar palavras sem qualquer conteúdo, rezar uma missa de pura convenção ou administrar sacramentos como se não passassem de macaquices... De regresso a casa, no seu presbitério rodeado de bosques e campos lavrados, todas as noites redigia, à luz da vela, um requisitório contra a ordem «detestável» cuja destruição desejava com todas as suas forças. A Antígona vem dar a conhecer ao leitor português, pela primeira vez, excertos desse requisitório-testamento, certa de que tão surpreendente texto contribuirá para a crítica da mentira instituída.