Sob o princípio (animal) da sobrevivência, existem seres humanos, mas a humanidade ela mesma, não existe.Desde o ponto mais longínquo da antropogénese, a condição da sobrevivência dentro da própria espécie assentou desapiedadamente na dominação e aniquilação de uns por outros, na opressão, na instrumentalização e no assassínio em massa dos mais fracos pelos mais fortes.Nesta lógica maldita, todas as conquistas da civilização, enquanto enriquecimento das possibilidades de vida humana, se degradam em meios de ampliação do potencial destrutivo das forças hegemónicas.O maior sinal do progresso está nas inovações tecnológicas do armamento, aos passo que o valor de um estado se confunde com a capacidade que ele tenha - e exiba - para se afirmar como potência militar acima das outras. E, assim, o futuro nunca será diferente do passado a não ser pelo crescimento sempre exponencial dos seus males. A história continuará a ser "uma catástrofe contínua que não se cansa de amontoar ruínas atrás de ruínas" (W. Benjamin).Totalmente outro seria, obviamente, o futuro colocado sob a égide do princípio da realização. Este princípio, com a função reguladora que, em registro kantiano, lhe proponho, tem o efeito de uma mudança gestaltista de perspectiva.Não muda a realidade, mas oferece um ponto de vista hermenêutico - um "fio condutor a priori" - para a sua transformação. Com ele podemos reconhecer e reconstruir o sentido emancipador do desenvolvimento humano.