A Poesia exige um ato de viva percepção e prontidão do autor, ele deve coligir à sua voz em escrituradas inquietudes, se possível promulgar o encarnado registro em erupção que se irrompe de novidade a cada sobressalto da aturdida garganta, daquele que descobre em cada escrita um verão em cada verso ou palavra.Leonardo Bachiega Em ácaros que depositam flores escreve com um olhar que desabotoa a roupa da palavra e desvenda outras sucessivamente. O poeta realiza um culto à imagística, os seus versos atravessam como feixe de luz a visão do leitor.O seu novo livro de poemas traz versos que se apuram numa concha própria, e quando aproximamos o ouvido, paulatinamente desatam-se em cântico marinho.Na poética de Bachiega os versos esculturam-se em uma lógica de aglutinação de adjacências e desvios, bifurcando-se numa bonita semântica autoral.Na obra ácaros que depositam flores há um sinal de pressurização que habita a língua e a consciência do poeta, pois a temperatura adequada dita a capacidade dos ácaros produzirem ou não flores.Sem dúvida a condição temporal regra a produção. O autor com isso perpetra uma incandescente metáfora do ínfimo, do insignificante, da miudeza, num lusco-fusco o título vai e vem. O seu espírito retórico habita também o território da grandeza, e em outro momento, parece pairar indiferente sobre o busto de ambos.Jean Narciso Bispo Moura – poeta e editor da Revista literatura & Fechadura. Primavera 2019