“espantosa opacidade do além-visto”. A frase aparece no último poema do livro e narra sobre quando não conseguimos ver muito longe de onde estamos, e, pior do que isso, não queremos ver. Penso que isso nos dá uma pista sobre qual é a preocupação do Paulo nesse livro: fazer a gente ver além. O procedimento mais comum do livro é a paródia, que vai do Hino Nacional até Vinicius de Moraes passando por contratos, inclusive com linhas para serem preenchidas, e, pasme, até um boleto, com código de barras e tudo mais. Mas por que tanta paródia? A paródia tira ideias cômicas ou no mínimo inusitadas de um poema anterior. O que num soneto de Dante era a beleza indescritível da saudação de sua amada, vira, na paródia do Paulo, um político tentando conseguir votos. Nessa brincadeira, somos colocados para enxergar coisas bem diferentes das que estão ali no original. E há uma razão para isso.