Este livro descreve os deslocamentos no discurso das reformas neoliberais que, ao longo dos anos 1990, criaram condições políticas para uma convergência inusitada entre o receituário econômico ortodoxo do Banco Mundial e as recomendações do PNUD para o desenvolvimento humano no âmbito das Nações Unidas.As questões estruturantes que, desde os anos de 1950, suscitaram os debates sobre os problemas das formações nacionais, suas determinantes históricas e os rumos e entraves ao desenvolvimento nas sociedades periféricas haviam saído de cena. Elas cederam a um novo tipo de diagnóstico do problema da pobreza: situada nos países da periferia capitalista ou em bolsões no interior de regiões desenvolvidas, esta não era mais o efeito das incompletudes e descompassos dos processos de descolonização e as situações de subdesenvolvimento ou dependência daí decorrentes; desconectada das formulações sobre a origem da profunda desigualdade social e de suas assimetrias políticas, a pobreza se reproduzia como problema nas circunstâncias individuais que levavam às situações particulares de privação.