Em seu novo romance, a carioca Lilian Fontes, autora de Santo dia (finalista ao Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura em 2003), narra a história de uma mulher cuja vida é marcada desde cedo por grandes perdas. A narradora-personagem, cujo nome não é revelado, é uma advogada criminalista que devota seu tempo quase que integralmente ao trabalho de detetive particular, ao lado de Manolo, cuidando de casos de desvio de dinheiro, extorsão e infidelidade conjugal. A partir da apuração de casos “corriqueiros” de fraudes, a protagonista acaba mergulhando em uma investigação muito mais perigosa, envolvendo um conhecido deputado que se utiliza de uma ONG para desviar dinheiro público. Mas neste que poderia ser um romance de ação pesada, a pergunta não é sobre o criminoso, o infrator ou o sonegador investigado, como aponta Heloisa Buarque de Hollanda na orelha do livro, “mas, curiosamente, é sobre o teor, a taxa de realidade do que sente, pensa e faz a investigadora”. Em De olhos bem abertos, o leitor acompanha o dia a dia da personagem, e através de suas ações ele viaja por suas lembranças e reflexões. Ao mesmo tempo em que se dedica a desvendar o que há por trás do caso e revelar as ilicitudes, a protagonista expõe suas dúvidas a respeito de seu trabalho e de sua profissão, enquanto rememora momentos marcantes de sua infância e de sua vida amorosa. Utilizando a estrutura policial numa narrativa límpida e ágil — com um final surpreendente —, a autora conduz o leitor pela viagem existencial da personagem, com seus conflitos profissionais e emocionais e suas observações quanto à complexa diferença entre o feminino e o masculino.