O Sermão da Montanha inaugura a formulação da doutrina de Cristo. Em presença de uma grande multidão, vinda de todas as partes, Cristo eleva a voz e começa a expor a Boa Nova. Quando acabou de falar, os ouvintes exclamaram surpreendidos: "Este ensina como quem tem autoridade!" Ficara-lhes gravada no íntimo a divina originalidade daquelas palavras. Quando o cristão dos nossos dias, ou mesmo o homem desejoso de servir ideais nobres, seja qual for a sua posição religiosa, medita nessa passagem evangélica, não pode evitar que se repita em seu interior o comentário daquela multidão. De tal maneira o fere a nova escala de valores, paradoxal para a condição humana e desconhecida da maioria. Georges Chevrot oferece aqui uma obra-prima sobre os valores espirituais da vida humana, enquanto enxertada num contexto social. São reflexões que hoje cobram nova ressonância em face de um mundo que parece dividir-se em grupos que não se escutam mutuamente, que não se encontram senão para voltar a desentender-se. Uns e outros têm que aprender a linguagem comum do Sermão da Montanha, estendê-la ao terreno do embate entre direitos e deveres, associá-la para sempre aos seus propósitos de aperfeiçoamento moral e espiritual. Cristo vai proceder ao seu primeiro grande ato messiânico, revelando quem são os verdadeiramente felizes. O auditório contém a respiração para não perder nenhuma das suas palavras. E os versículos do cântico sucedem-se ao ritmo dos velhos salmos de Israel: "Beati!" Bem-aventurados! O carrilhão das Bem-aventuranças ressoa na montanha, e uma nova era começa para o mundo, uma era que cada período da História, que cada indivíduo em particular, terá que iniciar em novos moldes de aplicação, com todas as suas exigências e todas as suas promessas.