Apesar da paixão pelos gibis - que antecedeu a minha alfabetização -, fiz pouco quadrinho, ou então muito menos do que desejava. Sempre tive vontade de brincar com a narrativa pelo desenho, aquela tradicional, com começo, meio e fim, em, no mínimo, uma página. Me faltavam, porém, boas histórias. Foi então que me dei conta de que nem só de aventuras fantásticas e rocambolescas vive a história em quadrinhos. Nesse momento, meu filho me trouxe de Barcelona o álbum 'A Vida Secreta dos Jovens', do francês Riad Sattouf, tratando de pequenos acontecimentos e diálogos que ele bisbilhota em Paris, dentro do metrô, nas cafeterias, nos bancos de praça, na fila do supermercado, e extrai disso um rico material humano. Foi então que percebi que os melhores roteiros estavam muito perto, dentro da cachola mesmo, em forma de lembranças da infância e da juventude. No princípio a autorreferência me inibia, depois, com a entrada na casa dos sessenta, entendi que a idade me autorizava. E aí, com o estímulo de amigos e colegas tive a realimentação que precisava para empreender esta tarefa, que - não sei pra vocês - pra mim foi divertida!