Depois de A confraria dos signos e Salmos proscritos, Marédia é o terceiro trabalho de Mauro Valle publicado pela Escrituras Editora. Neste livro, o poeta mostra não somente uma história, mas também sua competência e inventividade ao trabalhar de modo cuidadoso a expressividade da palavra em verso numa linguagem quase hermética para muitos. No entanto, faz-se necessário deixar os preconceitos de lado e se abrir a fim de mergulhar no diferente. Desse modo, notar-se-á que o texto tem encanto e beleza singulares, os quais provêm de uma tessitura sofisticada na arte de criar. Por isso, o conjunto de estrofes a ser apreciado durante a leitura certamente será enriquecida àqueles que o conhecer e nele se aprofundar. É importante perceber que alguns termos remetem a uma coloração regional, revelando as paisagens da natureza local e manifestando o jeito de ser no contexto de uma cultura popular. Contudo, erroneamente se pode pensar que esta obra é algo exclusivamente preso a uma especificidade local, mas a exemplo dos muitos trabalhos de Guimarães Rosa, apresenta o universal a partir do regional, isto é, aquilo que há de mais humano: a dor, a saudade, a ira, a paixão... No desfolhar das páginas, aos poucos, o leitor ingressará no universo de fascinantes personagens como Baldevino Boca, Nana perácio, Gréo Fadúncio, a linda Inezita e, sobretudo, Nercino Nuvem Naveira, homem simples, do povo, miscigenado, radicado há pouco em Taubaté.