Este livro é um atravessamento. Os versos que atravessam os poemas antes disso atravessaram a história de um país inteiro, contada aqui pela voz poética de uma mulher na medida da sua travessia. A voz criada pela autora, uma mulher brasileira de origem na indígena, conta poema a poema a vivência de milhares de brasileiros cuja identidade e ancestralidade indígena foram atravessadas pela ocidentalização, mas que agora fazem uma nova travessia, a de volta, como uma canoa voltando pra enseada. O fio condutor dos versos costura a diáspora e o retorno a si, uma retomada que, de dentro pra fora, acompanha o ciclo do mundo, uma reocupação do seu próprio território íntimo, mas tão pessoal quanto universal. E retornar a si mora no reconhecimento em ser ela mesma um resultado dialético da ilusão do Ocidente com sua origem e ancestralidade indígena, aquela que tem a casa com chão de água e paredes de ar. [...]