Depois de Terra e cinzas (2002) e As mil casas do sonho e do terror (2003), a Estação Liberdade lança Syngué Sabour, novo livro do aclamado escritor afegão, que levou de surpresa com esta obra o Prêmio Goncourt 2008. Em persa, syngué significa "pedra" e, sabour, "paciente". Pedra paciente, a pedra-de-paciência. A personagem central desta obra, uma mulher afegã, vela o marido - que vegeta em uma cama com uma bala alojada na cabeça. Os tempos são difíceis, na rua os tanques e as Kalashnikov atiram sem cessar, a guerra civil impera às portas da casa onde a mulher espera por um milagre. Enquanto isso, lentamente a mulher faz jorrarem de dentro de si as recordações há muito escondidas. Passa a narrar ao marido fatos que ele sempre ignorara. Como a syngué sabour da mitologia persa, a pedra negra que recebe dos peregrinos suas dores e lamentos, o homem prostrado ouve sua esposa. Ouve a extraordinária confissão da mulher, que segreda-lhe, de maneira inimaginável num país islâmico, tudo o que mantivera para si, soterrado sob uma espessa camada de tradição. A ideia para a obra surgiu a partir de um episódio em que foi convidado para um evento literário em Cabul por uma amiga, a poeta Nadia Anjuman. Chegando lá, descobriu que a poeta estava morta, por "causas familiares". Investigando, soube que Nadia havia sido espancada até a morte pelo próprio marido, com a conivência da mãe, pois eles discordavam de seu modo de vida. A frase que abre o livro - "Em algum lugar do Afeganistão ou alhures" - já revela a proposta do autor de não particularizar sua obra no âmbito topográfico: é sobre cultura afegã, ou, mais precisamente, sobre a ortodoxia islâmica que o autor se debruça em Syngué sabour. Não por acaso anônimos, seus personagens fazem irromper as tensões de todo um povo, as mazelas de uma região ressentida de conflitos perenes, sem, no entanto, que se abdique da sutileza e do refinamento do detalhe.