Este segundo romance de Mayrant Gallo, Os encantos do Sol (selo Escrituras), contemplado pela bolsa de criação literária e publicação da Petrobras e Ministério da Cultura (Minc), mostra um pouco mais da originalidade do autor de O inédito de Kafka (2003). Os encantos do Sol conta a história de um escritor, enquanto escreve por encomenda o roteiro de uma graphic novel o qual ele não vai assinar para um editor americano, que envolve-se com a jovem amante-aluna de seu melhor amigo. O relacionamento com a moça oscila conforme o narrador cumpre ou recusa os conselhos de um segundo amigo, confidente ao mesmo tempo machadiano e noir. Pautado nas peripécias erótico-amorosas dos personagens, e estruturado em capítulos curtos e rápidos, o romance evolui da comicidade ao mistério e torna-se mais elíptico e cifrado, até o desfecho simbólico, cujo sentido é entregue ao leitor. Sobre o livro, Mayrant afirma, na apresentação da obra, que, sobretudo, se divertiu bastante, ao escrevê-lo e que gostaria que isso ocorresse com os leitores, durante a leitura. Diz ainda que escreveu Os encantos do sol sob o fluxo contínuo da imaginação, do prazer e do acaso, jogando, divertindo-se, sem buscar uma coerência rígida e ciente dos riscos que enfrentava, por misturar, assim tão impunemente, aspectos de vários gêneros narrativos. Mas, sem dúvida, esta é a essência do romance, definido por muitos críticos, como um gênero informe. O primeiro romance de Mayrant, O ritual no jardim, saiu enfeixado no volume Três infâncias (Casarão do Verbo, 2011). Ao ser questionado se estava mudando de gênero, deixando o conto (pelo qual é mais conhecido) em favor do romance, o autor respondeu que costuma ser dois autores diferentes, conforme se dedica a um gênero ou outro. E que seu método é simples: distendo no romance o que no conto, forçosamente, preciso concentrar.