A capital da colônia e, depois, do Império do Brasil, o Rio de Janeiro foi, na primeira metade do século XIX, grande consumidora de reses bovinas vindas do Centro-Sul da América portuguesa, bem como de outros produtos para o abastecimento urbano. O comércio de boiadas e o de carnes verdes dentro da cidade é o tema desta pesquisa. O historiador Pedro Henrique Pedreira Campos mostra que a carne verde era, ao lado do charque, a forma mais comum de alimentação a partir da rês bovina, constituindo-se da carne proveniente do animal recém-abatido, que era retalhado e tinha suas partes vendidas pelos açougues da cidade. A carne verde, também chamada de carne fresca, tinha que ser consumida rapidamente após a compra, já que em pouco tempo ficava inadequada ao consumo.Outro ponto importante é o controle político do comércio de carnes verdes e sua implicação. O estudo nos ajuda a entender seja o Estado Português, seja o Estado Imperial Brasileiro. Pedro Henrique não vê o Estado como uma entidade, apartado da sociedade; antes, toma-o como produto de uma relação, refletindo uma correlação de forças entre classes e frações em atuação constante na vida social.Em conjunto, este estudo dos mecanismos de acumulação no comércio de carnes verdes e seu impacto, como síntese do funcionamento daquela organização produtiva, permite uma interessante incursão sobre a ação política dos Negociantes.