A condição degradante dos negros no Brasil do século XIX, após três séculos de escravidão, e cujos reflexos ainda hoje estão presentes em nossa sociedade, é retratada numa prosa poética bastante singular em "O advogado e o imperador - A história de um herói brasileiro". Seu autor, o advogado e escritor Gilberto de Abreu Sodré Carvalho, recria neste romance histórico a vida do abolicionista Luiz Gama e o coloca no lugar de protagonista como um herói brasileiro. O processo que levou à abolição da escravatura é um tema muito atual e pertinente, que merece ser revisto e discutido. A relação entre Luiz Gama e o imperador Dom Pedro II coloca em foco questões como liberdade e justiça social. Mais do que isso, aponta também a omissão do imperador em relação à questão escrava e à criação de um projeto de país que incluísse todas as pessoas. Filho de mulher negra livre e homem branco, o menino Luiz foi vendido como escravo pelo próprio pai aos dez anos de idade. Aprendeu várias profissões e exerceu a advocacia sem nunca ter-se formado advogado. Ele acreditava que o Brasil só poderia se desenvolver e ser um país justo quando toda a população recebesse a mesma educação e tivesse as mesmas oportunidades sociais e de trabalho. Sabia que a abolição da escravatura não seria a solução, mas um primeiro passo para uma sociedade mais justa. Considerado um eficaz tribuno da liberdade, ainda hoje seu pensamento é importante para a compreensão das fragilidades sociais do Brasil. Segundo o autor, Dom Pedro II representava o passado, acreditava no escravismo como um mal necessário e tinha a clara intenção de branquear a população brasileira. Acreditava que trazer imigrantes europeus brancos seria uma estratégia de governo para ajudar a dizimar a população negra analfabeta e desassistida, que estaria ainda mais fragilizada após a inevitável abolição da escravatura, exigida pelos britânicos e pelo mundo civilizado em geral.