O silêncio, a luz, o mar distante, o cansaço, a solidão, muitas vezes desejada, algumas vezes sentida, percorrem a poesia de Ezra Pereira. De poemas finos, com imagens iluminadas, mas sem esquecer a escuridão, esta obra traz algo que se sobrepõe: a Terra. Ezra tem apego ao chão, à natureza dos pássaros, canto de cigarras, mesmo ao corvo que pousa na página/e não é a morte/o que anuncia, mas indício alado de alegria. Os valores da Terra, o amor fati, mostram o eu-lírico como um flâneur entre os continentes do mundo, pelas terras da Ibéria, da Gália ou do Brasil. Mas, de novo, mesmo na sua errância, o silêncio se faz necessário, para que os versos surjam. Resta nesse silêncio apenas o vento respiração única/da Terra. Enfim, este livro é do poeta de nome cristão-novo, atento aos Antigos, romântico do velho e do novo mundos, mas que escreve enraizado no território de indígenas e de diasporados d’África. Tantos lugares, tantas línguas. Todos da Terra, pátria da sua alma. Do seu corpo, (...)