Na presente obra busca-se recuperar a memória histórica e coletiva dos povos de Angola e da Guiné-Bissau, através da análise do devir histórico como construção literária nas literaturas destes países, servindo, para isso, do método do materialismo histórico e dialético para esmiuçar as respectivas realidades socioculturais dos seus povos. Consubstanciando, contudo, a mesma em algo real, concreto. Traça-se, assim, dentro do enfoque da perspectiva utópica, a ambígua comunhão libertadora, o qual vindo da motivação do presente pelo devir histórico, comporta a união dialética entre a literatura (ficção) e a existência do sujeito (a cidadania de que gozam Pepetela e Filinto de Barros) nas suas respectivas nações, num processo de produção de significações que apontem para o dialogismo cultural entre os sistemas literários, a saber, o angolano (já constuído) e o guineense (em formação). Para isso, parte-se dos pressupostos teóricos de análise literária e cultural e avança-se para a contextualização histórico-cultural, analisando o problema das elites e a dinâmica do poder simbólico, assim como as narrativas sobre a pós-independência nestes dois Estados africanos, sem descurar do fato de que a literatura como instrumento de adesão e criação do real é como um corpo humano pleno de violência vivida, que desestabiliza e coloca, para o escritor/inteletual, o desafio de criar um novo corpo/pacto social, através do romance/ensaio. Com efeito, a escrita literária vai agir, no modo de sentir, de pensar, a cada vez que este escritor ou intelectual dá respostas às exigências impostas por um destes estados do pensar e do sentir, tornando-o em outros sujeitos.