Para cumprir a viagem mais importante de sua vida, um homem-menino se lança ao mar interior com uma jangada e o desejo de resgatar em suas profundezas as palavras duras por tantos anos cuspidas contra ele, escondidas pelo tempo e por defesa, mas que mesmo esquecidas ainda sentia entre a pele e os músculos, doíam a cada movimento, pressionavam o peito, despertavam imagens torpes e esquartejavam afetos. Uma jornada tão hostil quanto bela e acolhedora, e que ao resgatar essas palavras que tanto machucaram trouxe também à tona os nomes das bocas próximas que as cuspiram, e revelou o quanto a violência verbal, tão comum nos relacionamentos familiares, é capaz de interferir em destinos e deixar marcas permanentes. relicário de Cuspes, de Leonardo Valente, é uma história de lembranças violentas e ao mesmo tempo de grande beleza lírica, um texto onírico repleto de signos e de tempos meticulosamente sobrepostos, onde cada palavra que corta como navalha revela um oceano de sentidos.