É esse guri perdido na imensidão das saudades, é essa alma fugidia que pode impedir minha desgraça. Só ele tem o dom e o poder de me trazer à tona agora que estou inexoravelmente afundando. Só ele, com suas bolitas de gema, seu caniço de taquara e suas pandorgas coloridas.... Então sonhamos juntos outra vez. Voamos de novo, ziguezagueando, como uma pandorga rasgando o céu de luz numa linda manhã de domingo. Esta é a prosa de Paulo Mendes, límpida e larga, a cantilena dos desesperados, dos que tropeçam, mas não caem, e, se caem, levantam de cabeça erguida. A literatura é composta pela prosa dolorida dos perdedores e dos miseráveis, porém é simples, pura e digna, como a própria gente que ela retrata. Esta obra é para ser lida como quem apeia numa bodega e golpeia um trago escorado no balcão. Devagar, sentindo prazer, puxando prosa com os companheiros, feliz e satisfeito. Muitos dos que agora vão ler estas histórias aqui reunidas já as conheciam nas crônicas assinadas por Mendes no jornal Correio do Povo.