O livro de comidaria é de oficinas culinárias educativas orientadas por uma Educação Alimentar e Nutricional baseada em Paulo Freire para crianças e adolescentes de escolas públicas de locais desfavorecidos. Visa refletir sobre a violência simbólica oculta em regras e 'bons costumes alimentares', ao mesmo tempo em que reforça um saber solidário e democrático da dietética na organização e na produção de comidas. O cenário foi o da favela carioca, não somente em seu caráter de cultura periférica, mas principalmente pelos modos passados de uns para os outros como "certos" e "errados" de comer. A ressignificação de comidas foi uma forma de consensuar no coletivo um fazer culinário com utilização integral dos alimentos, baixo custo e uso de poucos utensílios, somente liquidificador e forno, e com lanches rápidos e fáceis de fazer. Viabilizar soluções locais para problemática alimentar dos escolares foi, na prática, oferecer mais opções alimentares capazes de orientar um projeto futuro de mundo melhor, baseando-se nas possibilidades concretas de comer melhor. O profissional de saúde pode auxiliar neste fazer, mas a condução principal é do sujeito: ele decide o que pode comer, e não pode se alienar de si nem de seu 'fazer comida' oprimido pelas recomendações nutricionais. A ideia da comidaria é potencializar o sujeito, motivando uma conquista por liberdade, autonomia e sabedoria na adequação dos aspectos nutricionais, combatendo o fatalismo que, segundo Freire, anima o discurso neoliberal e amesquinha as possibilidades reais dos sujeitos oprimidos através de uma 'benevolência' daqueles que impõem regras autoritárias esvaziadas de um compromisso com uma transformação do processo de produção de desigualdade social.