Já no século V a. C., a poeta grega Praxila alertava: Espia bem, amigo: / sob cada pedra / pode esconder-se um escorpião. À diferença das pedras, entretanto, a ardósia que nos apresenta Larissa Lins esconde outros perigos perto dos quais constantemente caminhamos, embora também se queira o chão que ampara nossa queda. E não nos enganemos: esta ardósia tampouco é estática. Desliza conosco entre o mundo dos sonhos e a realidade; põe-se à mão como arma; testemunha o pranto incontido; forja casas e lápides duas distintas formas de morada. A poesia de Larissa Lins, contudo, não se resume à concretude do espaço, à dureza da rocha. Também o onírico impõe suas demandas, descortinando o palco onde se encenam os sonhos e se subvertem o amor, as dores, a razão e a própria vida. Numa linguagem que sabe mesclar com argúcia os ritmos e os ritos de uma vasta tradição literária, em muito devedora do Romantismo de língua inglesa e das vanguardas artísticas das primeiras décadas do século (...)