Em sua estréia na Editora Record, Flávio José Cardozo conta a história da áspera vila do Guatá, no sul do país. São treze relatos que acompanham a vida de Belmiro Coan, Cilião Palheta e Rosalvo, imigrantes italianos e mestiços, operários de minas de carvão que dividem o mesmo espaço e acabam criando uma relação nem sempre amigável. GUATÁ traz muito da experiência pessoal de Flávio, criado na região de minas de Santa Catarina. “O tema da vida operária sempre esteve presente. Eu anotava lembranças, idéias, personagens verdadeiras. Se a paisagem não estava diante dos olhos, estava sempre viva num canto especial da consciência”, explica o autor. O livro tem a cor, o cheiro, a topografia, as ruelas e casinhas, o entorno do ambiente e o modo das pessoas, da vida cotidiana dos mineiros. “Causos” acontecidos num lugar que explorava minérios e homens. Flávio capta com maestria o comportamento desses homens. A fala, as brigas, os modestos divertimentos, a fé ingênua em Deus e nos santos, os sonhos, a pobreza, a morte. GUATÁ privilegia a singeleza das relações humanas. “Procurei informar-me dos pormenores mais específicos, consultei velhos mineiros sobre alguns aspectos do trabalho. Mas ousei, aqui e ali, algumas metáforas”, conta. Embora os contos sejam narrativas independentes, eles se relacionam, numa harmonia impressionante. Com personagens recorrentes, um mesmo espaço, uma mesma época, GUATÁ tem gosto de romance, com um narrador descendo a um palco de reminiscências. “Ele vem pela serra, desce e conversa com antigos moradores, perambula, transcreve treze episódios, revive, e sai pelo vale”.