"Percebo - ele disse -: queres dizer que a cidade cuja fundação estamos discutindo está nos discursos, pois não penso que ela exista em nenhum lugar da terra". "Mas talvez - eu respondi - esteja no céu como um paradigma, à disposição de quem o queira ver, e tenha como objetivo habitá-la" (República 592a-b). A obra política de Platão constituiu, já na antiguidade - e depois, sobretudo nos séculos XIX e XX - um dos mais violentos campos de batalha em que se desencadeou o conflito das interpretações. A pluralidade de interpretações não pode ser considerada uma simples questão de bibliografia especializada. Adquirir consciência crítica dela significa poder ler o Platão político certamente não de um ponto de vista "neutro", mas atento ao que se encontra em jogo no conflito das interpretações e da sua complexa estratificação. MARIO VEGGETTI é Professor Emérito de História da Filosofia Antiga na Università degli Studi di Parvia (Itália). Entre os maiores especialistas do pensamento antigo, é curador e comentarista da tradução da República, de Platão, em sete volumes (Bibliopolis, Napoli, 1998-2007), e tradutor e comentarista das obras de Hipócrates, Aristóteles e Galeno.