Por se ocupar das coisas fugidias e com prazo de validade curtíssimo, a crônica é guardiã das coisas íntimas, de fatos corriqueiros que trazem em si a chama potente da sensibilidade. Daí resulta a importância da contemplação do cronista e o seu dom de transformar a simplicidade, uma das coisas mais raras num ser humano, em uma qualidade insólita, como afirmou Clarice Lispector. Considerada um gênero menor, paradoxalmente a crônica contribuiu para consagrar nomes da estatura de Rubem Braga, Lima Barreto, Cecília Meireles e Luis Fernando Verissimo. As crônicas de João Mendonça nos conduzem por um painel diáfano e urbano, por onde ele circula com seu olhar e discorre sobre os problemas insolúveis do mundo, a infância, a natureza, a liberdade criativa do ócio, as perdas, a recordação afetiva de um tempo tão distante que já nem parecia mais ter sentido.