Como é que um movimento social, considerado importante por aqueles que o veem de fora, munidos de instrumento conceitual analítico, repercute nos seus protagonistas? Que tipo de lições oferece a participação na luta social? Consegue mudar mentalidades? Transformá-las politicamente? Predispô-las a novas lutas? Levá-las ao reconhecimento e crítica a respeito do lugar que vêm ocupando na sociedade? A perceber contornos, distinções, nuanças na realidade social e poítica antes imperceptíveis? Essas são questões que mobilizam a academia ontem e hoje. A investigação produzida por Luiz Galetti adentrou fundo em uma manifestação grevista de grande relevância para a história do operariado mato-grossense, captando excelentes depoimentos desses protagonistas, trazendo ao conhecimento do leitor sufucientes elementos comprobatórios de que a greve educa e provoca mudanças indeléveis. Os resultados imediatos e de curto prazo da greve podem ter significado quase nada em face da capacidade de atração e de mobilização política que ela conseguiu fomentar nos trabalhadores, essa, sim, efeito mais significativo e de longo prazo. Este estudo também é o registro de um momento histórico de articulação de forças políticas progressistas em torno da causa democrática no contexto mato-grossense. A greve, aqui tomada como objeto, é resultado do esforço de aglutinação e consolidação de uma frente esquerda de dirigentes sindicais, lideranças da CUT, PT, PC do B e de movimentos sociais alternativos desde o final dos anos 1970. Assim, temos em mãos mais um documento que mostra, mediante o estudo de uma greve operária, a trajetória das lutas populares e do próprio PT em processo político de duras batalhas, derrotas e conquistas. O documento tem enorme importância também hoje porque somos testemunhas da vitória popular representada por dois mandatos subsequentes do presidente Lula, o nordestino migrante, ex-sindicalista, sem diploma de graduação universitária que, em seu sétimo ano de governo, conseguiu manter-se com altíssimo índice de aceitação do eleitorado, ferindo os humores dos analfabetos políticos.