Como em uma foto analógica, onde o conteúdo se revela aos poucos, os personagens desse romance se mostram, camada após camada, através de inquietações amorosas e existenciais. Pela falta de perspectivas, o choque de anseios, o cruzamento de desejos e sentimentos. Seus olhares, também inesperados, são as molduras desse universo. Cinco diferentes visões, cinco lentes distintas, para um curioso estudo em branco e preto, em solidão e ressentimento, de retratos da vida cotidiana.Nesta rede de narrativas que se cruzam, Cristóvão Tezza, um dos mais conceituados escritores brasileiros contemporâneos, revela uma seqüência de polaróides urbanas. Uma linha alquebrada de acontecimentos que ganha força pela multiplicidade de pontos de vista. Uma devassa de relações destroçadas, ambições não cumpridas, de heróis comuns, vítimas de um exílio autoimposto, mergulhados na melancolia azeda da mesmice. Com grande agilidade, e fluidez lingüística, Tezza limita a trama a um dia apenas, como um Ulisses curitibano. Na cidade, às vésperas das eleições presidenciais de 2002, enquanto Lula e Serra trocavam farpas, o fotógrafo do título, nunca nominado, é contratado por um homem misterioso para fotografar secretamente a modelo íris. A cada rolo de filme, US$ 200. Apesar de aparentemente fácil, o trabalho se complica quando este se sente atraído pela moça. Enquanto decide se fica com íris ou com o dinheiro, o fotógrafo — jornalista de 40 anos, dividido entre fantasia e realidade, seguro apenas atrás de suas lentes — tem ainda que administrar uma crise conjugal. Ele não sabe como dizer à mulher Lídia que quer a separação. Mas esta tem um caso com o professor de mestrado, Duarte, casado com Mara, analista de íris, que sente falta de um amor do passado. Num arremedo da Quadrilha, de Drummond, Tezza urde uma teia de ressentimentos silenciosos, na qual todos estão ligados por uma série de coincidências. Um romance soberbo, aclamado com os prêmios da Academia Brasileira de Letras e da Bravo! de melhor romance de 2004, além de conquistar o 3º lugar do Prêmio Jabuti na categoria romance e ser um dos finalistas do Portugal-Telecom de Literatura Brasileira.