Neste livro, voltado para a questão da violência na adolescência, o foco de atenção dos autores se dirige, fundamentalmente, para a violência que estaria na base dos processos de subjetivação de sujeitos adolescentes. Uma pergunta parece insistir em todos os artigos reunidos nesta coletânea, ainda que formulada a partir de lugares distintos e complementares: por que a adolescência constituiria experiência privilegiada para o surgimento de comportamentos violentos? Ao se tentar "fazer trabalhar" esta questão, não se pode deixar de mencionar a inegável presença das rupturas traumáticas que marcam a travessia da adolescência, rupturas cujo conforto e superação demandam intenso trabalho psíquico. Trabalho parece representar justamente uma das palavras-chave na compreensão geral da problemática da adolescência e pressupõe o acionamento dos mecanismos responsáveis pelos processos de elaboração psíquica, em seus diferentes níveis. A possibilidade de realização de efetivo trabalho psíquico situa-se em polo radicalmente oposto àquele que concerne às respostas atuadas - ou, mais precisamente, às passagens ao ato em cujo cerne vislumbro, portanto, a precariedade e fragilidade egóica diante da irrupção de um pulsional não ligado. Porém, esta fragilidade que, de fato, se apresenta como repetição do estado de desamparo infantil, advém, igualmente, da exigência de "construção" e afirmação de uma identidade que se impõe ao psiquismo do adolescente a partir do próprio mundo interno. Esta exigência, este desafio, em primeiro lugar, é ele ter que ir à procura de um outro em si mesmo, mas devendo preservar suas fronteiras egóicas. O confronto com as radicais transformações em jogo na adolescência poderia ser traduzido, então como uma espécie de confrontação com a presença de um "estrangeiro" dentro de si. Adolescência: uma problemática de fronteiras?