Sou uma pessoa do público. Uma amiga me ligou para me convidar para ver uma peça de teatro. 5 minutos. Me disse que era uma peça de amor. A esperei cinco minutos. Não chegou. Entrei sozinha. Me sentei na primeira fila. Gosto de sentir a luz do palco sobre meus sapatos. Começa. É verdade. A peça fala de amor. Homens e mulheres que trabalham. Manuel e Amanda. Se amam. Há uma greve. Alguém morre. Alguém mata um grevista. Mas decidem continuar lutando. Há um preso. O amor se transforma em dor. Agora o palco é uma sala de tortura. Começo a suar na primeira fila. Silêncio. A luz do palco me ilumina a cara. De repente o ator me olha. Nos olhos. Se aproxima. Me dá um papel. Tenho que o ler. Agora o público me olha. Faço. Leio. Alguma vez fui atriz. Mas a voz me sai quebrada. O papel me treme na mão. Tento outra vez. Finalmente consigo ler: Tá faltando pouco pra tu não abrir mais a (...)