A questão é brutal. Porque são considerados os homens superiores em todas as sociedades de todos os tempos? A resposta que nos dá Françoise Héritier, nesta sua obra, é assombrosa. Primeiro recorda que o matriarcado - tão chorado e desejado pelas feministas - mais não é que um mito, uma lenda inventada pelos próprios homens a fim de legitimarem o seu poder. O masculino sempre levou a melhor sobre o feminino; uma desigualdade existente na base de toda a sociedade humana. Uma desigualdade necessária, já que, independentemente do facto de organizar o mundo, vai fundamentar o nosso pensamento: "o ser humano procurou dar um sentido a tudo o que o rodeia. Constata que tudo funciona sobre oposições fundamentais ancoradas na natureza: o Sol e a Lua, a direita e a esquerda, o seco e o húmido, o quente e o frio, o masculino e o feminino, o idêntico e o diferente." Estas estruturas do mundo conceptual são hierarquizadas pelo homem que procura corrigir a instabilidade fundamental da natureza criando equilíbrios. Assim, do lado masculino coloca o alto, o quente, a direita, o húmido, etc. Pelo lado feminino classifica o baixo, a esquerda, o frio, o seco. A autora explica então: "rapidamente a mulher será considerada como um ser passivo, porque perde o seu sangue, sem o pretender, enquanto o homem faz correr sangue lutando, portanto querendo."" Emilie Lanez, Le Point FRANÇOISE HÉRITIER professora no Collège de France, titular da cátedra de estudos comparados das sociedades africanas. Foi discípula de Claude Lévi-Strauss, a quem sucedeu na direcção do laboratório de antropologia social. É presidente do Conselho Nacional da Sida (França), membro do Alto Conselho da População e da Família e membro da Academia Universal de Culturas.