OLHOS ONÍRICOS DO REAL Romance mágico, literatura de urgência, obra perturbadora, que amplia indentidades, percorre labirintos; uma tour de force sobre a precária condição do humano, in extremis; esboço do flutuar da alma nos organismos do outro lado da vida. É o que se pode dizer de Cavalos selvagens, de Silas Corrêa Leite. Julian Barnes (The lemon table) dizia que \u201cescrever é usar a imaginação, explorar outras vidas\u201d. Cavalos Selvagens conta a dor crucial de um executivo em sua sedentária e exangue vida, e o confronto quase terminal (em local ermo e desprovido de recursos) com outra nova vida, pura, arrebentando viço pueril. No contexto, em louco contraste, o amor, a dor e a resistência se unem, como se somas, em favor de seu único descendente, com fluxo em ligações ancestrais, memórias inventariadas, narrativas ricas dentro do onírico, enfoque algo surreal (ou fantástico) que dá voz decodificadora ao indizível e toca o céu de todas as honras.