Água mínima precisa ser lido com os ouvidos atentos. A melodia composta por Alexandre Ladeira palavra a palavra e com ritmo e fluidez conduz o leitor por três atos de inquietação, dúvidas e encantamento. Não necessariamente nessa ordem, mas quase sempre simultâneos. Sem ignorar os cânones (mas a partir deles), o poeta experimenta e tensiona ao introduzir cada ato com uma citação que aponta para artistas sempre atuais. Alexandre deixa claro que tem os pés no presente e anuncia: os conflitos e prazeres dessa obra são inerentes às almas também contemporâneas. O vocábulo luz surge diversas vezes ao longo do texto, um convite a enxergar as trevas que nos consomem e as possibilidades além delas. Da origem do mundo ao brilho de um vaga-lume, do valor da alma ao mistério da lâmpada. Não será surpresa se, depois da Água mínima, o leitor perceber que lá fora é tudo pó de poesia. Aura Grube